Abril de Abril
Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.
Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.
Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.
Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.
Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.
Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.
Cover: Professor Luís Chora
Foi em 25 de abril,
Que houve uma revolução
O povo saiu à rua,
Em luta por paz e pão.
É que então em Portugal,
Governavam uns senhores,
Inimigos da Liberdade,
Da ditadura, defensores.
Mas o que é a ditadura,
Perguntam com curiosidade?
É não poder pensar diferente,
É não haver Liberdade!
Liberdade de pensar,
De escrever e de dizer,
-Não quero ir para a Guerra,
Eu sou livre de escolher!
Só havia um Partido
Em que se podia votar
E uma polícia política
Para todos censurar.
Mas os capitães de abril
Revoltaram-se um dia
E com cravos nas espingardas
Devolveram-nos a alegria!
A COR DA LIBERDADE
Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Eu
não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
é
quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Jorge de Sena (1919-1978)
Aconteceu em
Portugal, Já lá vão 50 anos. Uma Revolução
bem real, Foi pacífica e sem danos! |
Povo nosso
antecessor, Que às
palavras deste voz. Na luta pela
Liberdade, Conquistada pelos nossos avós! |
Começou a
Democracia, Todos ficaram
contentes. Povo feliz,
como há muito não se via. Finalmente
homens e mulheres não eram diferentes! |
Cinquenta
anos passaram, Desse dia de boa memória. Em que o Povo
saiu à rua, Fazendo a sua própria História! |
Adeus à
censura, À guerra
colonial. À vida
controlada e dura, Viva Portugal! |
História de
todos nós, Que
engrandece quem procura. Conhecê-la
profundamente, Encontrando-a Bela e Pura! |
Há 50 anos
houve uma Revolução, Isso aconteceu no nosso país. Foi um dia de
grande emoção, É quem
participou que o diz |
Do escuro,
surgiu a Luz, Da Ditadura,
a Liberdade. Estudar para não esquecer, Aprendendo para mais
tarde! |
Em Portugal
começou a Liberdade, Acabou a
Ditadura. Todos puderam
falar a verdade, E a vida dos
Portugueses ficou menos dura! |
Da tristeza e
choro de tantos, Nasce uma esperança renovada. Apoiada em canções e cravos,
Dispensando a luta armada! |
Foi a 25 de
Abril, "A
Revolução dos Cravos"! Em ambiente primaveril, Festejaram os
"Bravos!" |
De Revolução,
só o nome, Da luta então travada. Que procurou
dar ao povo, A Liberdade desejada! |
Sou ainda
criança, Vivo na
Democracia. Conquistada por aqueles, Que fizeram Abril um dia! |
Agora Povo
Unido, Recorda a voz
do poeta. Que escreveu que em Abril, Se deixou a porta aberta! |
De tanto
ouvir falar, De Abril e
Liberdade. Pesquisei e estudei, Na procura da
Verdade! |
Linda, foi
aquela manhã, Que fez Abril surgir. Restituiu a Liberdade, Àqueles que haviam
de vir! |
Descendente
de Povo Herói, Heroína / Herói me senti. Procuro usar bem a Liberdade, Que um
dia te faltou a ti! |
Liberdade,
Liberdade! Não me canso
de gritar. Escutem povos do mundo, A Vitória está para durar! |
Isso sim é liberdade
vamos dizer a nossa vontade
isso sim é liberdade
criar belas artes com vaidade
expressar o que sente o coração,
isso sim é liberdade
exprimir o sonho que nos invade,
sem medo sereno e com calma,
isso sim é liberdade
amor, fraternidade, igualdade
opinião, expressão, sabedoria,
Isso sim é liberdade.
Zeca Afonso - Vejam Bem - Cantares de Andarilho (1968)
Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem se põe a pensar
quando um homem se põe a pensar
Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar
E se houver
uma praça de gente madura
e uma estátua
e uma estátua de de febre a arder
Anda alguém
pela noite de breu à procura
e não há quem lhe queira valer
e não há quem lhe queira valer
Vejam bem
daquele homem a fraca figura
desbravando os caminhos do pão
desbravando os caminhos do pão
E se houver
uma praça de gente madura
ninguém vem levantá-lo do chão
ninguém vem levantá-lo do chão
Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem
quando um homem se põe a pensar
Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar
Poema “Trova do vento que passa” de Manuel
Alegre declamado por um grupo de alunos do 1.º Ciclo de Ansião
Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
E o vento cala a desgraça
O vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
Tanto sonho à flor das águas
E os rios não me sossegam
Levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
Ai rios do meu país
Minha pátria à flor das águas
Para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
Pede notícias e diz
Ao trevo de quatro folhas
Que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
Por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
Quem vive na servidão.
E a noite cresce por dentro
Dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
E o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
Liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
Aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
Dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia
Canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não.
As mãos
.
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
.
E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
.
De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
Link: https://youtu.be/okS7haHVj8M